A GRANDE CIDADE DA MEMÓRIA:
A MUC E A ME, O CENTRO E A PERIFERIA.
A memória pode ser dividida
em duas grandes áreas: uma área central, e consciente, a MUC — memória de uso
contínuo —, e uma grande área periférica e inconsciente, a ME — memória
existencial.
A MUC representa a memória
de mais livre acesso.
É a área da memória que
lemos continuamente para produzir os pensamentos cotidianos, as emoções
corriqueiras, as decisões diárias,
A ME representa a memória
que contém os segredos da nossa história passada.
Nela se encontram milhares
de arquivos com bilhões de informações produzidas desde a aurora da vida fetal.
Todos os arquivos são
interligados multifocalmente ou através de múltiplas direções.
Podemos entrar em arquivos
do passado e do presente ao mesmo tempo. Por exemplo, podemos penetrar num
arquivo que contém informações de uma atividade de trabalho do presente e esse
arquivo é capaz de nos conduzir a ter acesso a um arquivo de um período da
infância. A memória humana é tão fantástica que, embora os arquivos possam ser
lidos isoladamente, frequentemente são lidos multifocalmente.
Posso ler múltiplos arquivos
da minha memória e pensar, por exemplo, em uma das minhas filhas, em um amigo
de infância, em uma conferência que darei daqui a uma semana, em um paciente, e
extrair uma ideia que possa interligar todos essas informações. Ler a memória e
construir ainda que seja um pequeno pensamento é uma produção mais fantástica
do que construir o maior edifício do mundo. E muitos não se impressionam com a
própria inteligência.
Figurativamente falando, a
memória pode ser comparada a uma grande cidade.
Os bairros estão ligados por
múltiplas avenidas e ruas.
A MUC corresponde ao núcleo
central da cidade, ou seja, as ruas pelas quais mais caminhamos e as lojas, farmácias
e supermercados que mais utilizamos. Por isso ela é chamada de memória de uso
contínuo ou consciente.
A ME corresponde aos bairros
periféricos, ou seja, as lojas, as farmácias, as ruas, que frequentávamos no
passado, principalmente em nossa adolescência e infância.
Tudo que não é
frequentemente utilizado na MUC vai sendo deslocado para os bairros periféricos
da ME, ou memória, inconsciente.
Toda vez que você resgata
uma experiência da periferia (ME), ela retorna para as áreas centrais da
memória (MUC) e se torna consciente.
Portanto, o trânsito entre o
mundo consciente e inconsciente é enorme e contínuo.
Frequentemente resgatamos
informações de nossas infâncias e trazemos para nosso presente e, assim,
produzimos recordações agradáveis ou desagradáveis.
Às vezes você não tem nenhum
motivo exterior para estar triste, mas de repente surge uma angústia
inexplicável.
Alguns cientistas que não
conhecem os papéis da memória tentam explicar essa reação por alterações no
metabolismo cerebral, mas, na realidade, ela surgiu de um resgate sutil e
imperceptível de algum bairro da periferia de sua memória.
Resgatamos informações da
periferia para o centro e deslocamos informações do centro para a periferia.
Onde estão seus amigos de
infância, os professores da pré-escola, as ruas e praças em que você brincava?
Um dia eles estiveram na
MUC, no centro da memória, mas pouco a pouco foram substituídos por novas
experiências e, assim, foram deslocados para a ME, para a periferia da memória.
As aventuras da meninice não
foram embora, estão apenas em bairros periféricos.
(Do livro REVOLUCIONE SUA QUALIDADE DE VIDA de Augusto Cury)
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